Futebol Para Todos

“No mundo é assim, é só copiar. Rico vai ao estádio. Pobre assiste ao futebol na TV.”

“Para abaixar o preço dos ingressos, nós (Governo) temos que subsidiar os ingressos, isentar os clubes de impostos, os prefeitos de responsabilidades…”

“Sabe por que se faz gracinha com ingresso de futebol? Por que futebol não tem dono.”

Alexandre Kalil

Pérolas do desconhecimento cultural, social e o mais incrível, econômico

Ao contrário do que disse o prefeito de Belo Horizonte e ex-presidente do Atlético-MG, o Governo não tem que insentar os clubes de impostos para que esses consigam incluir as camadas mais pobres da sociedade dentro dos estádios/arenas de futebol. Os clubes precisam sim é contratar profissionais capacitados e criativos para gerí-los. O Governo, por sua vez, tem que evoluir seu sistema tributário para um modelo mais justo e eficiente, sem prejudicar ricos, empresários, comerciantes, pobres e desempregados. O equilíbrio é o segredo para montar times campeões e sociedades desenvolvidas e mais felizes.

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Retornando às pérolas acima, outra afirmação equivocada do prefeito de BH foi dizer que todos os ingressos na europa são caros, citando inclusive, a Alemanha, país mais emblemático e exemplar na inclusão de todas as camadas da sociedade dentro de um estádio de futebol.

A Bundesliga determina espaços nas arquibancadas dos clubes alemães de acordo com as porcentagens de suas camadas sociais. Simplificando: x% para ricos, y% para classes medias e w% para “pobres”. Claro, esses conceitos precisam ser avaliados de acordo com cada sociedade, pois ser pobre na Alemanha e ganhar um salário mínimo lá, é bem diferente do que no Brasil. Mais sobre o assunto no video da ESPN Brasil.

Surfando nesse cenário o Borussia Dortmund teve 97,7% de ocupação em seu estádio na temporada 2017-18. Mais detalhes na matéria do Futebol Marketing.

dortmund

Dortmund. Há 21 anos liderando a Bundesliga nas arquibancadas.

O futebol é um bem cultural intrínseco à sociedade, ele não precisa de Projeto de Lei para tranformá-lo em cultura como disse kalil. Não entender isso significa não entender o Brasil. O futebol, como a música, a culinária, o cinema, os hábitos comportamentais, a arquitetura e tantos outros aspectos, além da economia, também funcionam como ferramentas para mapear problemas, causas e soluções para se construir uma cidade, uma sociedade mais harmônica e menos desigual.

O tamanho de um clube de futebol é proporcional à sua responsabilidade com aqueles que o tornaram grande

Outro detalhe na entrevista chamou a atenção. Falar que pobre tem que assistir aos jogos de futebol pela TV, além de miopia social é uma ingratidão gigantesca.

Por que os patrocínios masters nas camisas de Flamengo, Corínthians e Palmeiras valem muito mais do que os patrocínios nas camisas dos demais clubes no Brasil? Seria somente pelo desempenho em campo, patrimônio ou pelo fair play financeiro? Por que as placas publicitárias no entorno dos campos de futebol desses clubes valem o que valem? Por que as cotas de TV são inúmeras vezes maiores em determinados clubes do que em outros?

A resposta é a mesma para todas essas perguntas. Por causa do tamanho de suas torcidas. Todos os acordos comerciais são pautados a partir disso, somados ao engajamento e potencial de compra que elas possuem. E esse tamanho, no Brasil, tem sua esmagadora maioria formada pelas camadas mais humildes da sociedade. Os mesmos pobres que são impedidos de assistir aos jogos dos seus clubes nos estádios, são os responsáveis pelo tamanho desses mesmos clubes.

É um modelo cruel, mais fácil e muito bem entendido pelo sistema atual no futebol brasileiro, que se preocupa apenas com as camadas mais ricas – o que é um tiro no pé. Funciona mais ou menos assim:

“Temos que impedir que os pobres assistam aos jogos nos estádios, ele precisam consumir o futebol via TV, ou internet, pois representam 80% … 90% da audiência, e assim validamos nossa precificação em relação aos patrocínios nas camisas, placas publicitárias, cotas de TV, etc, pois a qualidade do esptáculo que oferecemos não é suficiente para justificar tais valores.”

Soccer - Taca Guanabara - Final - Vasco da Gama v Fluminense

Final Taça Guanabara 2019: torcida somente após os 30 min.

Uma comprovação recente dessa lógica foi a Final da Taça Guanabara de 2019 realizada dia 17 de fevereiro, domingo passado. Os torcedores que compraram ingressos para assisitr à decisão entraram no Maracanã somente aos 32 minutos do primeiro tempo.

Um clube brasileiro que não viabilizar uma pequena porcentagem da sua capacidade de ocupação nos estádios, para as camadas mais humildes, não deveria participar de competições de futebol.

É um dever, uma obrigação, uma contrapartida dos clubes de futebol aos responsáveis pelo tamanho que eles são, pelo valor que suas marcas alcançaram.

#FutebolParaTodos

Assista à entrevista de Alexandre Kalil aqui.

 

Podcast:

 

Clique na imagem abaixo e confira o bate-papo na íntegra no Bora Pra Resenha Podcast onde falamos sobre a revitalização das marcas dos clubes de futebol, seleção brasileira, calendário, VAR, regras atualizadas, as novas demarcações do campo e muitas outras curiosidades sobre a história do futebol:

Futbox no Bora Pra Resenha

Futbox no Bora Pra Resenha

 

 

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Adriano Ávila

A prova inquestionável que existe vida inteligente fora da Terra é que eles nunca tentaram contato com a gente.

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