Futebol, uma vitrine

Junho de 2013. Entra em vigor o reajuste de R$0,20 nas tarifas dos ônibus de São Paulo. Manifestantes foram às ruas protestar contra o aumento. Houve confronto com a polícia. A notícia virou manchete nos principais jornais e adeptos do movimento surgiram em todo o país. Não apenas pelos R$0,20, mas contra a repressão da PM, contra a corrupção, contra a PEC 37… As manifestações chegaram aos jornais estrangeiros: o Brasil estava a dias de sediar a Copa das Confederações, uma espécie de treino para o Mundial de 2014.

Revolta dos Bondes - São Paulo, 1947

Revolta dos Bondes – São Paulo, 1947

Os protestos continuaram e cresceram durante a realização do torneio da FIFA, que também virou alvo dos manifestantes. O mundo todo olhava para o Brasil. Nos anos 40, o país viveu situação parecida. Eurico Gaspar Dutra assumiu a presidência em 1945 e já no ano seguinte o Brasil foi confirmado como sede da Copa de 50. Em 1947, estourou em São Paulo a “Revolta dos Bondes”. O aumento no preço das passagens despertou a ira da população que foi às ruas, pichou e incendiou bondes. Um clima de incerteza pairava sobre o Brasil.

É indiscutível que o futebol é uma grande vitrine. Não à toa, Benito Mussolini fez questão de que a Itália sediasse o Mundial de 34. Era a oportunidade de se promover e promover o regime fascista que implementara no país. Em 1970, Emílio Garrastazu Médici aproveitou o sucesso da seleção de Pelé, Tostão e cia para fazer propaganda política da ditadura militar.

Mundialito - Uruguai 1980.

Mundialito – Uruguai 1980.

No entanto, algumas vezes o tiro sai pela culatra. Foi o caso do Mundialito de 1980 no Uruguai, que celebrava os 50 anos da Copa do Mundo e reunia as seleções campeãs mundiais – a Holanda, vice-campeã em 1974 e 1978, substituiu a Inglaterra. O país vivia um regime militar e nas vésperas do torneio, um plebiscito indicou o desejo da população para uma abertura democrática. Na final (Uruguai 2 x 1 Brasil), os uruguaios gritaram pela 1ª vez: “vai acabar, vai acabar a ditadura militar”. O futebol mostrava ao mundo a insatisfação do povo com a ditadura, extinguida em 1985, quando Julio María Sanguinetti assumiu a presidência do país.

Conheça essa história no documentário Memórias de Chumbo: o futebol nos tempos de Condor, dirigido e produzido pelo jornalista da ESPN Brasil, Lúcio de Castro. (ver entre 38’20” a 41’20”).

 

 

Em 2010, no último ano de seu mandato, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou: “Queremos deixar um legado de melhoria nas condições de vida do nosso povo”. O Brasil deixou esse legado ou o tiro saiu pela culatra?

 

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Gabriel Godoy

Jornalista; frustrou-se na tentativa de ser um jogador profissional; peladeiro; apaixonado por futebol de campo, de rua, de botão, de vídeo-game...

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